Sons, Cheiros e Sabores da minha Cidade Enquanto a lua ainda dorme Enquanto o sol mal acaba de acordar Passeio pelas ruas da minha cidade Sinto o cheiro de uma azáfama matinal Que sonolenta se mistura Com a intensa maresia que do mar se desprende Enquanto num vai e vem cadenciado Gaivotas pairam no ar E no café da esquina Como que por encanto ou mero acaso O doce cheiro a café convida-nos a entrar Saboreando os cheiros que docemente pairam no ar Mais ao longe onde a terra pega com o mar Por entre o ruído de pregões matinais É o cheiro de peixe que ainda saltitando nas redes Até nós acaba de chegar É uma mulher perfumada Que vagarosamente desce a calçada Uma criança que corre apressada Será que o banho tomou? E os dentes ela lavou? Por entre sacos de roupa e pilhas de loiça suja Pensa frente a uma chávena de café A sua mãe preocupada Percorro as ruas, as avenidas e os becos sombrios e estreitos Onde abunda a roupa estendida nos beirais É roupa de um branco imaculado Lavada por mãos calejadas Mãos que lavam, mãos que esfregam Mãos que o tempo gastou E o Sol, esse ainda não chegou E estes são os cheiros e os sons da minha cidade

Ouvi Sei que ouvi Era o som do vento norte Que com mil sons se lamentava E chorava Chorava baixinho Como se no peito Mil dores lhe rasgassem o coração Trazia consigo uma canção de amor ou de dor E na alma uma doce melancolia Chamei-o Dei-lhe um nome Chamei de novo baixinho Não fosse o ruído da minha voz Acordá-lo Mas o vento norte que é forte Não ouviu Partiu Foi em busca de outro lugar
anacosta

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Quem são eles Quem é esta gente Rostos sem nome Que caminham sem norte Perdidos numa multidão Que não os reconhece Apatridas de um berço Que os viu nascer Despejos humanos A que ninguém deu valor Produto de um mundo em declínio Gente a mais Que só causa embaraço Quem são eles São gente Gente que ao mundo só traz confusão Quem são eles Quem é esta gente São filhos são, são pais, são irmãos 26/12/20 anacosta

Somos mulheres de um tempo que já é passado 
Almas sofridas, corações despejados de sentir. 
 Trazemos no corpo o cheiro de longínquas primaveras 
 Flores que murcharam com o tempo 
 E na alma sonhos nunca realizados. 
 Somos árvore de folha caduca e já sem frutos 
 Somos rio que secou. 
 No regaço que outrora berço de vida foi 
 Trazemos o vazio, o nada... 
 Somos a vela que ardeu e se apagou. 
 Somos a noite escura, firmamento vazio 
 Pois uma a uma e com o tempo cada estrela se apagou...
anacosta

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